Domínio cambial sob pressão: instabilidade política, déficits crescentes e busca por alternativas apontam para cenário multimoeda, segundo matéria de Mohsin, correspondente sênior da Bloomberg News.
O dólar segue como a principal moeda de reserva mundial, usado em nove de cada dez transações cambiais, em cerca de metade do comércio global e compondo quase 60% das reservas internacionais.
- Essa posição privilegiada permite que os Estados Unidos financiem déficits orçamentários massivos e que consumidores gastem mais do que ganham, sustentados pelo apetite estrangeiro por ativos denominados na moeda americana.
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Mas a confiança está enfraquecendo. Em 2022, o bloqueio imposto pelo governo Biden ao acesso da Rússia ao dólar após a invasão da Ucrânia iniciou um movimento de diversificação cambial. O cenário piorou com a Grande Inflação, o rápido deteriorar fiscal e a aplicação seguida de reversão abrupta de tarifas pelo presidente Donald Trump.
- O índice do dólar caiu mais de 10% no primeiro semestre de 2025 — pior resultado para o período desde 1973.
- A busca por alternativas cresce.
- Famílias ricas da Ásia reduzem exposição a ativos americanos; o BRICS intensifica esforços para criar um sistema de pagamentos alternativo; e até aliados como a Europa veem chance de minar o domínio da moeda.
No entanto, nenhum concorrente único se mostra pronto: o euro sofre com fragmentação institucional, o yuan é limitado por controles de capital e ativos como ouro, Bitcoin e stablecoins enfrentam barreiras de uso e liquidez.
- O cenário mais provável é um mundo multimoedas, no qual o dólar ainda lidera, mas divide espaço com outras moedas.
- Isso teria impactos concretos: juros mais altos nos EUA, financiamento externo mais caro, desaceleração econômica interna e menor eficácia de sanções e políticas externas baseadas no controle do sistema financeiro global.
A Grande Vantagem do Dólar
Composição das moedas nas reservas cambiais oficiais no 1º trimestre de 2025.
Fonte: Banco de dados do FMI sobre a composição das reservas cambiais oficiais.
Observação: exclui reservas com alocações desconhecidas ou indefinidas.
Economistas como Barry Eichengreen estimam que, se a participação do dólar nas reservas cair cerca de 30 pontos percentuais, os juros de longo prazo nos EUA podem subir até 0,8 ponto percentual.
- Isso encareceria hipotecas, pressionaria o consumo e aumentaria o custo da dívida federal, hoje próxima de US$ 2 trilhões por ano.
- No campo geopolítico, um dólar menos hegemônico elevaria custos militares externos e reduziria a capacidade de influência dos EUA.
Apesar das projeções, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, garante que o fim do dólar como reserva global é improvável. Ainda assim, a crescente competição cambial num mundo multipolar sinaliza que a supremacia construída desde a Segunda Guerra pode entrar em uma fase de teste inédito.
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