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Crise no Agronegócio e Novas Regras Contábeis Expõem Vulnerabilidades do Banco do Brasil

A escalada da inadimplência no agronegócio e o impacto de uma nova norma contábil do Banco Central expuseram as fragilidades da maior carteira de crédito rural do país, forçando o Banco do Brasil S.A. a revisar suas projeções financeiras e a lidar com críticas internas e do mercado, segundo matéria da Bloomberg.

O banco, que responde por cerca de 50% de todo o crédito ao setor agrícola, perdeu aproximadamente US$ 4 bilhões (cerca de R$ 20 bilhões) em valor de mercado após divulgar um resultado trimestral abaixo do esperado, que praticamente anulou os ganhos acumulados no ano. A crise foi desencadeada por uma combinação de fatores: a disparada dos juros ao maior patamar em duas décadas, colheitas frustradas e um número recorde de pedidos de recuperação judicial por parte de produtores rurais. Apenas no primeiro trimestre de 2025, a inadimplência acima de 90 dias na carteira agrícola do BB saltou para 3,04%, ante 2,45% no trimestre anterior e 1,19% no mesmo período de 2024 — índice que já era esperado para o ano inteiro.

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Nova regra do Banco Central agrava perdas

O agravamento da situação veio com a entrada em vigor, em janeiro, de uma nova regra do Banco Central que obriga os bancos a deixarem de contabilizar juros sobre empréstimos inadimplentes, salvo se efetivamente pagos. Além disso, a norma exige provisão imediata para perdas esperadas — que antes só eram lançadas após a inadimplência ser formalizada.

  • O BB, que nos últimos anos havia reduzido sua postura conservadora para melhorar a rentabilidade, foi especialmente atingido.
  • O impacto da nova regra somou uma perda de R$ 1 bilhão em receita no trimestre.
  • Segundo Felipe Prince, vice-presidente de riscos do banco, o BB constituiu provisões “significativas”, mas reconheceu que a inadimplência superou as expectativas.
  • A qualidade dos ativos da carteira agrícola, responsável por um terço da carteira de crédito da instituição, continua em deterioração.
  • “Trabalharemos duro para combater a inadimplência, mas continuaremos com isso até o final do ano”, afirmou.

Mercado reage com cautela

A resposta do mercado foi imediata: em 16 de maio, após a divulgação dos resultados, as ações do BB caíram fortemente, revertendo os ganhos acumulados no ano.

  • Enquanto pares como Itaú, Bradesco e Santander sobem mais de 25% em 2025, o papel do Banco do Brasil avança apenas 2%.
  • “O resultado foi pior do que o esperado, e acreditamos que a teleconferência não abordou todas as preocupações dos investidores”, escreveu Eduardo Rosman, analista do BTG Pactual, que rebaixou a recomendação da ação para neutra.
  • Segundo ele, o quadro ainda pode piorar: “A deterioração foi mais grave do que o banco havia indicado e ainda não parece ter atingido o pico.”

Pressão política e institucional

A pressão também aumentou sobre a presidente-executiva Tarciana Medeiros. Primeira mulher a ocupar o cargo em mais de 200 anos de história da instituição, ela tem sido alvo de críticas internas, segundo fontes da Bloomberg, por supostamente priorizar temas como diversidade em detrimento da gestão de riscos.

  • As críticas se intensificaram após o fraco desempenho do banco no trimestre.
  • Medeiros teria discutido os resultados com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi informado de que os recursos do Plano Safra e uma colheita mais robusta podem melhorar o cenário no segundo semestre.
  • Ainda assim, fontes da Bloomberg dizem que Lula não tem planos de substituí-la, embora espere uma reação concreta da executiva.
  • O banco, em comunicado, reiterou seu compromisso com as metas e afirmou que “diversidade e geração de valor não são excludentes”, classificando a pluralidade como uma vantagem competitiva.

Agronegócio sob estresse prolongado

A conjuntura do agronegócio brasileiro ajuda a explicar o quadro. Após anos de expansão financiada por dívidas, muitos produtores estão enfrentando safras fracas, queda nos preços das commodities e juros elevados — combinação que tem levado a um aumento expressivo de reestruturações e inadimplência.

  • “O agronegócio está passando por um dos seus piores momentos dos últimos anos, e há um alto nível de incerteza para os próximos trimestres”, disse Raphael Nascimento, analista da Fitch Ratings.
  • Já Eduardo Nishio, da Genial Investimentos, alerta para o uso de práticas jurídicas predatórias que incentivam produtores a pedirem proteção judicial de forma estratégica. “O segundo trimestre deve ser tão ruim ou pior que o primeiro”, afirmou.

Expectativa por ajuda oficial

O governo deposita esperanças no Plano Safra, que será anunciado em junho. Para receber os recursos, os produtores precisam estar em dia com seus contratos — o que, segundo o banco, pode ajudar a conter parte da inadimplência.

  • No entanto, Prince alertou que o alto volume de recuperações judiciais pode limitar esse efeito positivo.
  • Enquanto isso, o Banco do Brasil negocia com reguladores um tratamento diferenciado para sua carteira agrícola, devido às “características muito específicas” desse tipo de crédito.
  • O Banco Central não comentou o tema.


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