Fundos estatais chineses estão interrompendo novos investimentos em empresas de capital privado dos Estados Unidos, segundo fontes do Financial Times do setor, marcando a mais recente resposta de Pequim à intensificação da guerra comercial com Washington.
A retirada ocorre em um momento em que o governo chinês intensifica o controle sobre a exposição a ativos norte-americanos, após a imposição de novas tarifas por parte dos EUA. Sete executivos da indústria de private equity afirmaram à Reuters que fundos respaldados pelo Estado deixaram de firmar novos compromissos com gestoras sediadas nos EUA nas últimas semanas. Três dessas fontes apontam pressão direta do governo chinês como o principal fator por trás da decisão. Além de congelar novos aportes, alguns desses investidores estão tentando sair de estruturas já existentes envolvendo empresas norte-americanas, mesmo quando o investimento é feito por fundos com sede fora dos EUA, segundo os executivos. A movimentação ocorre após o ex-presidente Donald Trump, que reassumiu a presidência dos EUA no início de 2025, anunciar tarifas de até 145% sobre exportações chinesas. Pequim retaliou com tarifas de até 125%, aprofundando o impasse entre as duas maiores economias do mundo.
Desaceleração gradual
A China Investment Corporation (CIC), fundo soberano que administra mais de US$ 1 trilhão, está entre os que têm reduzido sua exposição a ativos norte-americanos, segundo duas pessoas com conhecimento direto.
- A tendência de desaceleração nos investimentos da CIC em private equity nos EUA já vinha sendo observada nos últimos anos, mas se intensificou nas últimas semanas, disseram fontes do setor.
- Outros fundos soberanos chineses também suspenderam investimentos ou reavaliam sua alocação, buscando alternativas em mercados como Reino Unido, Arábia Saudita, França, Japão e Itália.
“Definitivamente há perguntas de investidores e clientes globais sobre o que está acontecendo aqui”, disse Jonathan Gray, presidente da Blackstone, em teleconferência de resultados na última quinta-feira.
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Efeitos em cadeia
Durante décadas, fundos chineses como a CIC e a Administração Estatal de Câmbio (SAFE) ajudaram a alavancar o setor de private equity dos EUA, transformando-o em uma indústria com US$ 4,7 trilhões sob gestão.
- Segundo dados da Global SWF, cerca de um quarto dos ativos de CIC e SAFE — estimados em US$ 1,35 trilhão e US$ 1 trilhão, respectivamente — estavam alocados em ativos alternativos em 2023.
- A retração chinesa pode reverberar pelo mercado global.
- Fundos soberanos e de pensão do Canadá e Europa, tradicionalmente grandes investidores em private equity americano, também estariam reconsiderando seus compromissos diante do ambiente geopolítico mais incerto, segundo o Financial Times.
Investimentos indiretos sob escrutínio
Com o aumento do escrutínio ocidental sobre investimentos diretos chineses em setores estratégicos, os aportes indiretos — via fundos de private equity — se tornaram um dos principais canais para o capital estatal chinês acessar ativos em mercados desenvolvidos.
- Segundo análise de registros regulatórios e fontes com conhecimento do tema, investidores estatais chineses participaram de veículos de investimento com alguns dos maiores nomes do setor, como Blackstone, Carlyle Group, Vista Equity Partners, TPG, Thoma Bravo e Global Infrastructure Partners (GIP), adquirida pela BlackRock no ano passado.
- Durante o primeiro mandato de Trump, a CIC chegou a estabelecer um “fundo de parceria” com o Goldman Sachs, focado em aquisições nos EUA e Reino Unido.
As empresas CIC e Vista não responderam a pedidos de comentário. Blackstone, Carlyle, TPG, GIP e Bravo preferiram não se pronunciar.
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