Cinco anos após liderar uma revolução nos pagamentos com o lançamento do Pix, o Banco Central do Brasil enfrenta um momento crítico.
Notícias e Cobertura do Mercado Em Tempo Real Acesse: https://t.me/activtradespt
Enfrentando cortes orçamentários, fuga de talentos e tensões políticas com o governo Lula, a instituição que já foi vista como exemplo global agora lida com preocupações crescentes sobre sua capacidade de manter a estabilidade financeira e realizar sua missão com eficácia. O Pix, criado em meio à pandemia por uma força-tarefa de servidores públicos, tornou-se um sucesso instantâneo e modelo internacional. Mas, desde então, o que era visto como um marco institucional virou uma lembrança distante. A deterioração nas condições internas da autarquia levou a uma queda no moral e à saída de profissionais experientes, ao mesmo tempo em que desafios estruturais se intensificam. Hoje, há receios de que o segundo maior banco central das Américas esteja operando no limite, com sua capacidade de fiscalização e inovação comprometida, segundo matéria da Bloomberg.
Sucateamento silencioso
O orçamento da instituição caiu cerca de 17% em termos reais desde 2015, atingindo cerca de R$ 4 bilhões em 2023. O número de servidores encolheu para menos de 3.300, frente aos mais de 5.000 em 2006.
- A idade média da força de trabalho subiu para 51 anos, com um terço dos funcionários de supervisão já elegíveis para aposentadoria.
- A falta de renovação de pessoal e o congelamento de contratações, somados a investimentos minguantes — foi de apenas R$ 15 milhões em 2024 — dificultam desde treinamentos técnicos até a modernização de sistemas.
- Em um episódio emblemático, documentos importantes chegaram a ser danificados por chuva em Brasília por falhas estruturais nas janelas dos edifícios.
- “Estamos chegando a um ponto de ruptura em que podemos acabar nos perguntando como manter o Pix funcionando”, alertou o ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, em 2023.
Autonomia limitada e desgaste político
Ainda de acordo com a matéria, diferente do Federal Reserve dos EUA, o Banco Central brasileiro não possui autonomia financeira. Seus recursos dependem do orçamento da União, o que o torna vulnerável a cortes e prioridades políticas.
- O ex-presidente Henrique Meirelles e o atual chefe do BC, Gabriel Galípolo, defenderam publicamente a aprovação de uma lei que garanta essa autonomia — mas o projeto segue parado no Congresso.
- Desde sua posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado duramente a atuação do BC, especialmente em relação ao nível elevado da taxa Selic.
- A pressão política aumenta o desgaste institucional e esvazia a capacidade técnica da autarquia de tomar decisões independentes.
Supervisão sob ameaça
Internamente, há forte preocupação com a qualidade da fiscalização. Um funcionário revelou a Bloomberg que, se antes oito pessoas eram designadas para inspeções em instituições financeiras, hoje esse número caiu para dois. “Não conseguimos fazer uma supervisão intrusiva”, afirmou Vivian Rosadas, representante dos analistas do banco.
- A queda na capacidade técnica se estende à produção de conhecimento.
- Especialistas como Sergio Vale, da MB Associados, observam um declínio na qualidade dos relatórios do BC, antes considerados referência para o debate macroeconômico no país. “Os relatórios de inflação perderam profundidade”, afirma.
- Adriana Dupita, da Bloomberg Economics, defende o retorno das “caixas” analíticas nos documentos trimestrais, que no passado guiavam o mercado e aumentavam a transparência.
O que está em risco?
As limitações já causaram impactos concretos: atrasos na modernização do sistema cambial, falhas operacionais como o cancelamento de um leilão de linha em dólares, e deficiências no acompanhamento do avanço das criptomoedas e novos meios de pagamento.
- Apesar dos esforços da atual gestão para reorganizar o orçamento e valorizar o corpo técnico — como programas de pós-graduação e incentivos ao estudo —, o cenário segue desafiador.
- “Enquanto o banco fizer parte do orçamento do governo, haverá restrições que impactam seu funcionamento. Isso pode prejudicar a supervisão financeira. E isso não está sendo debatido como deveria”, alertou Meirelles.
A continuidade do esvaziamento do Banco Central levanta uma questão urgente: por quanto tempo a instituição conseguirá cumprir seu papel essencial sem a independência e os recursos adequados?
- O modelo de excelência que inspirou o mundo com o Pix está sob risco — e, com ele, a estabilidade de um dos sistemas financeiros mais relevantes da América Latina.
Notícias e Cobertura do Mercado Em Tempo Real Acesse: https://t.me/activtradespt