Após nova alta da Selic, real se valoriza e reduz pressão sobre preços, mas Banco Central mantém cautela com serviços.
Após nova alta de juros determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira, elevando a Selic para 15% ao ano — a maior desde 2006 —, a tendência é de continuação da queda do dólar, com impacto direto sobre a inflação. Especialistas consultados pelo O Globo afirmam que a valorização do real já começa a aparecer nos índices de preços, levando a projeções de IPCA abaixo de 5% para este ano.
Segundo o Banco Central, as projeções de inflação acima do teto da meta de 4,5% foram um dos argumentos para a sétima alta consecutiva dos juros. Em 2025, o dólar já recuou 12%, saindo de R$ 6,30 em janeiro para R$ 5,49 no fechamento de quarta-feira (18). A valorização do real, impulsionada pelo ingresso de capital estrangeiro atraído pelos altos juros, tem aliviado preços de alimentos, combustíveis e produtos importados, segundo matéria de O Globo.
Com isso, o mercado revisou para baixo as projeções de inflação: o Boletim Focus já reduziu a estimativa de IPCA de 5,7% para 5,25%. O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, prevê inflação de 4,8% no fim do ano e destaca que a queda do dólar já refletiu no IPCA de maio, com bens duráveis ficando 0,17% mais baratos no mês.
- “É um ano muito difícil, com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Mas, no curto prazo, as condições externas estão ajudando. Isso abre espaço para uma inflação mais baixa”, afirmou Cunha.
- Ele pondera, contudo, que o conflito no Oriente Médio pode pressionar o petróleo, embora a situação externa ainda seja favorável, com commodities em queda e um acordo inicial entre EUA e China reduzindo pressões sobre preços.
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A guerra comercial promovida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, também contribui para um dólar mais fraco globalmente, segundo o economista Fábio Romão, da LCA 4Intelligence. “Chegou-se até a discutir, em um movimento raro, o papel do dólar como reserva de valor global”, destacou Romão.
- O economista lembra que, em crises anteriores, o dólar não apresentava a mesma fragilidade de agora, reflexo das turbulências fiscais americanas.
- A combinação de câmbio mais favorável com fatores internos como safra recorde de grãos, clima positivo, e aumento da oferta de aves — devido à gripe aviária que suspendeu exportações — tem ajudado a conter preços de alimentos.
- Romão espera queda de preços nos supermercados já no próximo mês, com reduções em frango, ovos, carnes, frutas, tomate, azeite e café.
Em maio, a alimentação no domicílio subiu apenas 0,02%, e a LCA projeta deflação de 0,32% em junho para o grupo, antes de uma retomada de alta a partir de agosto. A projeção anual de inflação dos alimentos recuou de 7,7% para 7,3%, enquanto Cunha projeta 6,5%.
- Nos bens industriais, Romão estima uma alta de 3,8% este ano, abaixo dos 4,3% previstos anteriormente. “O câmbio vem apreciando e isso diminui essa pressão de repasse”, afirmou.
- Para o economista Alexandre Maluf, da XP, o ingresso de capital estrangeiro também tem sustentado o real, junto ao bom desempenho das contas externas, impulsionadas por safras recordes e crescimento das exportações.
- A valorização da moeda já alivia preços de eletroeletrônicos, automóveis e alimentos importados, como trigo e leite em pó, além de itens como computadores, videogames e roupas.
A XP revisou a projeção do IPCA de 5,7% para 5,5%, e projeta deflação de 0,35% na alimentação no domicílio e alta de 0,13% nos bens industriais em junho. O Itaú também cortou suas estimativas para 2025, com o IPCA passando de 5,5% para 5,3% e o dólar de R$ 5,75 para R$ 5,65 em dezembro.
- Apesar do alívio, o Banco Central destacou, em seu comunicado ao elevar a Selic, sinais de atividade econômica resiliente e pressões no mercado de trabalho.
- Segundo Romão, a inflação de serviços, com projeção de 6,2% para este ano, mantém o consumo aquecido e dificulta o controle de preços.
- “Essa é a pulga atrás da orelha. É isso que preocupa o Banco Central”, afirmou, prevendo o dólar em R$ 5,80 em dezembro.
- Na visão dele, os juros só devem começar a cair a partir de março do próximo ano, quando a inflação pode finalmente recuar para 4,87%.
- “O Banco Central vai esperar um pouco para, aí sim, começar a cortar os juros”, completou.
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