Os custos de empréstimos de longo prazo estão subindo nas maiores economias do mundo, dos Estados Unidos ao Japão, à medida que investidores demonstram crescente ceticismo sobre a capacidade dos governos de financiar déficits orçamentários cada vez maiores, segundo matéria da Bloomberg.
Nos EUA, os rendimentos dos títulos de 30 anos superaram 5% esta semana, perto dos maiores níveis desde 2007, enquanto os títulos japoneses de longo prazo atingiram recordes desde o início das medições em 1999, em meio a leilões com demanda fraca. Títulos similares no Reino Unido, Alemanha e Austrália também enfrentaram pressão de venda. Com o fim das taxas de juros próximas de zero, tensões comerciais persistentes e inflação estável, analistas alertam que os governos não podem mais contar com financiamento barato. A saída de bancos centrais e fundos de pensão desses mercados agrava o cenário. “Não é de se admirar que os compradores estejam cautelosos em alimentar níveis de déficit insustentáveis nas principais economias do mundo”, disse Kathleen Brooks, da corretora XTB Ltd, ressaltando a atratividade dos títulos corporativos de alta qualidade. A situação evoca episódios anteriores de aversão dos investidores, como nos EUA nos anos 1990, na zona do euro nos anos 2010 e no Reino Unido em 2022, quando os chamados “vigilantes dos títulos” forçaram governos a recuar em suas políticas fiscais. No mês passado, o presidente Donald Trump suavizou planos tarifários, citando mercados de títulos “agitados”.
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A elevação dos rendimentos teve reflexos além do mercado de dívida. Na quarta-feira, a alta do juro dos Treasuries de 30 anos desencadeou uma queda de 1,6% no S&P 500, a maior em um mês.
- O custo maior dos financiamentos também pressiona famílias e empresas, afetando empréstimos e consumo, o que, por sua vez, pode agravar os déficits fiscais com a queda da arrecadação.
- O caso dos EUA é central: a dívida em circulação saltou de US$ 4,5 trilhões em 2007 para quase US$ 30 trilhões, enquanto a relação dívida/PIB passou de 35% para 100%, segundo o Congressional Budget Office.
- O risco fiscal afeta inclusive o dólar, que tradicionalmente se fortalece com o aumento dos rendimentos, mas agora vem perdendo força.
No Japão, a liquidação de títulos de longo prazo se intensificou com a redução das compras pelo Banco do Japão, sem compensação suficiente por seguradoras e outros investidores tradicionais. “A liquidez no mercado de JGB está se deteriorando”, afirmou Simon White, estrategista macro da Bloomberg.
- O primeiro-ministro Shigeru Ishiba alertou que a situação fiscal do país está pior do que a da Grécia.
- Mari Iwashita, da Nomura, vê a crise como estrutural: “Se o Ministério das Finanças não agir, as coisas provavelmente não se acalmarão.”
- Segundo o Deutsche Bank, a alta dos rendimentos japoneses pode atrair capital doméstico e afetar a atratividade dos Treasuries.
- George Saravelos, do banco, vê na diferença entre os juros americanos e o iene o “indicador mais importante da aceleração dos riscos fiscais dos EUA”.
Alguns sinais de demanda ainda aparecem. O Reino Unido vendeu £ 4 bilhões em títulos para 2056 com forte demanda — £ 73 bilhões em ordens — apesar do rendimento em torno de 5,40%. O Escritório de Gestão da Dívida do Reino Unido já ajusta a oferta à queda de interesse dos fundos de pensão.
- Analistas do Bank of America preveem que outros países seguirão o exemplo e reduzirão emissões.
- Na Alemanha, os rendimentos dos títulos de 30 anos rondam 3,16%, em meio ao plano bilionário de investimento em defesa e infraestrutura.
- Espera-se que a emissão aumente no fim deste ano, mesmo com reformas previdenciárias holandesas, a partir de 2026, que devem reduzir a demanda institucional.
“Há claramente uma falta de demanda por ativos de longa duração em todos os lugares”, concluiu Shaniel Ramjee, da Pictet Asset Management, em Londres.
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